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"ENTREVISTA" com Márcio Mele

Atualizado: 10 de mar. de 2019

Comandar uma equipe de editores, selecionar notícias, entre tantas, e decidir pela melhor cobertura. Este é sem dúvida um trabalho dinâmico e emocionante. Já deu para saber quem é esse profissional? Neste Blog, você vai conhecer um pouco do dia a dia do Editor-Chefe, um profissional que precisa estar a par do que acontece em sua cidade ou país, além de ser ágil para tomar as decisões certas e com isso poder oferecer um jornal com as mais importantes notícias do dia. Para falar sobre esse profissional, entrevistei um colega da TV Bandeirantes que depois de 15 anos de carreira, chefia o Jornal do Rio e comanda o Esporte no Rio de Janeiro, Márcio Mele.


1. Eu começo citando um artigo do jornalista e professor Phill Meyer, considerado um ícone da pesquisa jornalística nos Estados Unidos. Ele sempre defendeu a cobertura local que, segundo ele, é o mais importante produto de um jornal. Além de ser menos vulnerável à substituição pela internet, ela garante credibilidade pelo interesse público. Um trabalho de muita responsabilidade, não é?


Sem dúvida. Não podemos errar. As pessoas acreditam nos jornalistas. Somos formadores de opinião. Passamos e vivemos de credibilidade. Quando tivermos certeza, temos que checar novamente porque não podemos colocar a vida de ninguém em risco.


2.Como é comandar uma equipe na busca pelo melhor material jornalístico?


Comandar uma equipe não é tarefa fácil. Antigamente o grito regia as redações. Mas hoje o chefe deu lugar ao líder. Precisamos dar exemplo, manter a equipe motivada. É importante deixar claro que para a engrenagem funcionar, todos precisam estar produzindo. Sem meus editores não vou a lugar algum. Ensino e aprendo. Acerto e erro. Ninguém é dono da verdade e, independentemente de cargo, precisamos de humildade. Um editor-chefe precisa ter um “que” de psicólogo. Saber olhar no olho do editor e identificar se naquele dia você deve pressioná-lo ou pisar no freio. É preciso confiança. Com ela, nos abraçamos e damos nosso melhor.


3.Fale um pouco do seu dia a dia?


Meu dia começa ainda na cama. Nossa profissão não permite muito descanso. Estamos 24 horas ligados e é no celular que começo a leitura do dia. Primeiro com o factual. Apuradores (rádio + tv) alimentam, durante todo o dia, um grupo de WhatsApp na qual faço parte. Já levanto da cama sabendo onde teve tiroteio, arrastão, se algum bairro amanheceu sem água ou qualquer outro fato que tenha acontecido na cidade. Em seguida, durante o café, dou um giro pelos sites e leio os jornais na internet. 9h30 da manhã sigo para a redação. Na chegada, algumas vezes, participo da reunião de caixa com a rede, onde são decididas as matérias que serão enviadas para nossa matriz, em São Paulo. Na sequência troco uma ideia com o Chefe de Reportagem para traçar a linha do jornal local. Feito isso, monto o espelho e escolho os editores que vão pegar as matérias. Ao longo do dia, fico responsável por aprovar todos os textos, após o editor bater o olho, e cuido do texto que o apresentador vai ler no ar. Seria lindo se tudo dito aqui funcionasse na prática. Mas a todo instante somos surpreendidos com factuais, matérias que caem, ideias que aparecem, enfim, a loucura do jornalismo que tanto ouvimos por aí. Vale lembrar que um jornal nunca entra no ar fechado. Tem sempre uma reportagem sendo editada, uma nota que aparece e precisamos encaixar de última hora e, tudo isso, sem estourar um segundo.

No meio da correria, acho tempo para cuidar do esporte. Que matérias faremos no dia seguinte, que viés dar nas reportagens, o que é notícia, exclusivas com jogadores, etc. Mas no fim, dá tudo certo. Hora de fechar as coisas, voltar pra casa (9 da noite) e seguir acompanhando as notícias. Apagamos de cansaço!


4- Divide com a gente, alguns casos de grande repercussão que você participou?


Vivemos de perto os problemas e as conquistas dos personagens do dia a dia. Alguns casos marcam pela emoção do sonho e outros pela emoção do drama. Vivi excelentes momentos no esporte. Pan Americano (2007), Copa do Mundo (2014), Olimpíadas (2016). Fiquei perto de ídolos mundiais. Assisti a Seleção Americana Masculina de Basquete, vi o Neymar no Maracanã, a americana Simone Biles colecionar ouros, Michael Phelps dar aula na piscina e muitos outros. Mas também vi de perto a tragédia da região serrana. Contamos mortes (literalmente), ouvimos relatos desesperados; fui acordado com um telefonema para falar da queda do avião da chapecoense; vi o Museu Nacional arder em chamas; fora a tragédia de Realengo. Crianças perderam a vida com um atirador maluco. Vivi o sonho da pacificação e a volta do medo nas comunidades do Rio. Cobri posses e prisões de governadores. Acompanhei o passo a passo do atual presidente, Jair Bolsonaro. Vi a Lava-Jato colocar políticos atrás das grades - essa ainda vejo. Toquei debates para Prefeito e Governador. Alguns carnavais, festas de Réveillon. Fora viver o momento de maior crise do nosso Estado/País.


5- Que tipo de notícia você mais gosta, mais te motiva a buscar o fato?


A notícia que ajuda a população. Algum problema que a pessoa venha passando e conseguimos resolver. Não fazemos jornalismo pra gente e sim pros outros. Temos que desconfiar sempre, sinal de alerta ligado. Nunca devemos aceitar a primeira resposta. Duvide de tudo. Desmascarar esquemas também faz o sangue correr mais forte pelo corpo.


6 - Em poucas palavras fale sobre:


- Altos e baixos da profissão?


Altos - viver de perto o mundo que todos só assistem pela televisão. Estamos perto do fato, do que está acontecendo - pro bem ou pro mal. Ter sempre uma história pra contar. Baixos - falta de tempo para os amigos e família. Não temos feriado. Pelo menos 2 finais de semana são dedicados a plantões. Aniversários e viagens ficam pra trás.


- Erros que não podem se repetir?


Nenhum erro pode se repetir. Aprendi com um antigo diretor que tive, Xico Vargas, que podemos errar, mas insistir no erro é burrice. Sempre nos chamava e falava: errou bichão. Agora é arrumar outra coisa pra errar. Essa não mais!


- Notícias que nunca esqueceu?


Citei algumas acima. Atirador de Realengo, Queda do Helicóptero da Chapecoense, Tragédia da Serra, atualmente o assassinato da Marielle Franco, O fogo ardendo no Museu Nacional e a morte de dois amigos de trabalho - um durante uma operação policial atingido por uma bala de fuzil e outro durante uma manifestação de black blocs.


- O que diria a quem está começando no jornalismo?


Esteja preparado para a oportunidade. Em vinte minutos tudo pode mudar. O que você faz para alcançar seu sonho? Se quer apresentar, faça um curso. Treine na frente da câmera, estude. Ache seu diferencial, seja pró ativo. Crie e quando estiver disputando uma vaga, pense: porque eu mereço ser contratado e não ele(a)? O que faço de melhor? Nunca deixe pra amanhã. Surpreenda. Peque pelo excesso. Se arrependa de ter tentado e nunca pense que poderia ter feito. Você comanda sua mente e corpo. E o mais importante, leia. Bom jornalista não é aquele que fala de um assunto só durante uma hora. Bom jornalista é aquele que escreve pelo menos cinco linhas sobre qualquer assunto. Não somos especialistas, mas temos que saber de tudo um pouco.


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